Estresse da Grama por altas temperaturas

05/02/2024
Autores: Livia Sancinetti Carribeiro - Engenheira Agrônoma, Mestre em Agronomia (Irrigação e Drenagem), Doutora em Agronomia (Irrigação e Drenagem) pela UNESP, Botucatu-SP e Coordenadora Executiva da Associação Nacional Grama Legal e Patrick Luan Ferreira dos Santos* - Engenheiro Agrônomo, Mestre em Agronomia (Sistemas de produção) e Doutor em Agronomia (Horticultura), UNESP, Botucatu-SP.

Grama x Temperatura

Com o final da primavera e início do verão, as gramas ficam mais expostas ao chamado “estresse por altas temperaturas”. Basicamente, os danos causados aos gramados no verão estão geralmente associados ao calor intenso, alto pisoteio, desidratação e doenças (principalmente fúngicas), contudo, dentre todos os fatores citados anteriormente, o estresse por altas temperaturas é o mais difícil de prevenir ou controlar. Ele geralmente ocorre em associação em condições de déficit hídrico, decorrente da falta de chuvas ou irrigações pouco frequentes na área.

À medida que as temperaturas ambientais aumentam, a partir da faixa considerada como ideal para as gramas de clima quente (as mais cultivadas no Brasil), o crescimento da planta pode ser reduzido ou interrompido. Isso ocorre em função da morte das células que constituem os tecidos da grama, por um fenômeno chamado Fotoxidação ou fotodano. Esse processo acontece, pois, a radiação solar que incide nas folhas é muito alta, e a planta através dos seus pigmentos não conseguem dissipar o excesso de energia, e assim ao invés de produzir gás oxigênio, acabam originando as chamadas espécies reativas de oxigênio (como o oxigênio singleto e peroxido de hidrogênio) e esses compostos se tornam tóxicos e podem levar a senescência e morte foliar.

Todavia, vale destacar que de maneira geral, espécies de grama de habitats nativos com temperaturas mais quentes apresentam maior tolerância ao calor extremo do que outras espécies ou cultivares introduzidas no país, que são provenientes de outras condições edafoclimáticas.

Resposta dos gramados a temperatura

A temperatura de uma planta de grama ou de suas partes é determinada pelo ambiente total. Mas de maneira geral a temperatura da raiz da grama é idêntica à temperatura do solo adjacente a ela e a da parte aérea do gramado semelhante a temperatura do ambiente circundante, levando-se em consideração as variabilidades decorrentes de fatores ambientais que afetam a troca de calor como: (a) intensidade de luz, (b) radiação, (c) temperatura do ar, (d) conteúdo de água na atmosfera e (e) vento.

Temperaturas ideais para o desenvolvimento do gramado

Embora variável entre as espécies, o bom desenvolvimento da parte aérea das gramas de clima quente, depende de temperaturas compreendidas entre 25°C e 35°C. Sendo efeitos nocivos aos gramados verificados para temperaturas acima do considerado ideal. Como consequência negativa desse fenômeno pode ocorrer:

  1. Redução de crescimento;
  2. Redução da densidade do gramado;
  3. perda de suculência das folhas;
  4. morte e senescência foliar;
  5. folha com aspecto desidratada.

Diferentemente da parte aérea, as raízes conseguem se desenvolver sob os efeitos de elevadas temperaturas ambientais. Mas isso só é possível se a temperatura do solo se mantiver favorável.

A temperatura média diária do solo na profundidade de 15 cm está altamente correlacionada com o crescimento das raízes da grama e é o melhor indicador de variações sazonais no enraizamento. A faixa de temperatura ideal para o crescimento das raízes é relativamente inferior àquela considerada ideal para o crescimento da parte aérea, estando compreendida entre 23 e 29°C.

Danos causados as raízes em função das altas temperaturas

A morte do sistema radicular ocorre como consequência das altas temperaturas atingidas pelo solo, como consequência dos efeitos diretos da radiação solar sobre a superfície e acúmulo excessivo de calor em função da baixa taxa de cobertura verde do gramado. Esse incremento na temperatura proporciona o aumento na taxa de maturação das raízes que se tornam marrons, finas, fracas e morrem. Como consequência há:

  1. Redução no crescimento dos brotos;
  2. Redução do comprimento das estruturas de propagação;
  3. Folhas crescem mais estreitas;
  4. Redução da área da foliar;
  5. Perda de suculência das folhas;
  6. Mudança de tonalidade das folhas (tornam-se verdes escuras);
  7. Redução na densidade do gramado expondo o solo aos efeitos da radiação e altas temperaturas.

Destaca-se que o crescimento de estruturas de propagação (rizomas e/ou estolões), assemelham-se as condições consideradas ótimas para o crescimento radicular, e são da mesma forma prejudicadas pelas altas temperaturas.

Desta forma, recomenda-se o manejo preventivo dos efeitos da temperatura no gramado no decorrer da primavera através de um bom programa de adubação e correção do solo, descompactação, aplicação de topsoil e um manejo de irrigação, para que no decorrer do verão o gramado apresente cobertura verde suficiente e esteja saudável para evitar os efeitos da radiação solar direta sobre o solo.

Uma observação interessante a se fazer é que os gramados irão tolerar altas temperaturas durante o dia, se as temperaturas noturnas forem suficientemente amenas para que não ocorra acúmulo excessivo de calor no solo.

Outra consequência é a morte dos tecidos que constituem a parte aérea do gramado por altas temperaturas. Ela acontece quando o resfriamento interno da planta (decorrente da transpiração da planta = perda de água pelos estômatos) é prejudicado pela deficiência interna de água, como consequência da deficiência hídrica do solo.

Sintomas graves de lesão por calor aparecem como escurecimento e deterioração do tecido afetado. Assim, gramados pouco densos são mais afetados pelas temperaturas superficiais do solo que estão altas em comparação a gramas com alta densidade. Desta forma, é essencial tentar-se ao bom manejo da irrigação no decorrer de todo verão, de forma a evitar a desidratação excessiva das plantas.

Mecanismos de proteção contra altas temperaturas:

Nenhuma técnica prática está disponível para eliminar completamente o estresse causado pelas altas temperaturas dos gramados. Mas existem práticas culturas e alternativas disponíveis que minimizam as lesões proporcionadas pelo calor.

  1. Optar por espécies mais tolerantes ao estresse por altas temperaturas como as Zoysias, Bermudas, Santo Agostinho e Paspalum.
  2. Optar pelo uso de técnicas que evitem o déficit hídrico interno das plantas através da manutenção do nível de umidade ideal do solo de forma a garantir a boa hidratação das plantas no decorrer do dia.
  3. Realizar irrigações constantes na grama para reduzir a temperatura do dossel do gramado e o potencial de acumulação de calor nas horas mais quentes do dia.
  4. Realizar manejos constantes no gramado durante todo o ano, a modo de evitar que ele entre em grandes períodos de estresse nessas condições.
  5. O uso de alguns bioestimulantes pode favorecer situações de estresse em plantas, e vem mostrando bons resultados em alguns cultivos.
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